Com o pensamento em ti,
folheando um livro da Martha Medeiros que ganhei de dia dos namorados, puxo
mais pra perto de mim o aquecedor, que tenho ligado durante horas intermináveis
nestas noites frias que tem se feito na minha cidade, na minha casa, no meu
quarto e, por que não também confessar que, no meu coração, tão abalado e
descrente de tudo. Curioso, nem foi você quem me deu o livro, nem existe um
motivo óbvio pra lembrar-me do teu sorriso enquanto o leio.
E, bem, o aquecedor tem feito o
papel do teu abraço em alguns momentos. Bobagem. Nem bem sei se teu abraço é
quente, ou não, se é dotado de um calor tão confortante quanto o do aquecedor
aqui, talvez teu abraço seja menos artificial, sou dado a essas ilusões mesmo,
esses pensamentos, criações de hipóteses apoteóticas de momentos quase que
impossíveis, mas tão indeléveis na minha mente, e nos meus mais profundos
desejos.
Mas quero te contar do livro,
guriazinha, andei me reconhecendo nele, e em cada página uma bofetada me
atinge, como se ali estivessem escritos todos os meus erros, minhas
inconstâncias, minha brutalidade para com aquelas pessoas que se aproximaram de
mim há algum tempo. Mas como tudo tem um lado bom, meu bem, também pude
observar um amadurecimento, ainda pouco, mas já perceptível a olho nu. Certamente
eu não conseguiria identificar e admitir tais defeitos antes.
Enquanto o pequeno utensílio
sopra um bafo quente ao meu rosto, me perco aqui por dentro, tendo um pequeno
devaneio agridoce, pensando em como seria bom te envolver em meus braços, pelo
mais curto espaço de tempo que fosse. Queria eu ter tido coragem de dar um “oi”
e um sorriso em tua direção quando ainda me sentia capaz de conquistar alguém,
de uns meses pra cá, tenho a impressão, perdi meu instinto “conquistador”. Outra
bobagem, nunca o tive de veras.
Então, meio desajustado em mim,
vou tentando te cercar da forma menos atemorizante possível, pois decidi ter
contigo a paciência que não tive com nenhuma outra até agora. Sortuda, você. E eu
também. Certamente perderia todas as chances se tivesse chegado aos teus dias
da forma intempestiva que costumava usar em tempos passados. Encontrar você,
mesmo que vagarosamente, é o que me importa agora. Mesmo que tenha que ir duas
ou mais vezes até o espaço, só pra te presentear com uma estrela, e ser
merecedor do teu abraço, aposentando de vez o aquecedor que já anda cansado de
me fazer companhia.
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