sexta-feira, 13 de julho de 2012


                É que à noite bate uma tristeza tão profunda, minha querida. Um sentimento inexplicável de solidão, um aperto no coração, na alma, nos olhos, que me faz chorar, perder o tino, a calma, e é nesse momento que a vontade de viver, assim como o ar, começa a ficar rarefeita. Enquanto o cigarro queima ao meu lado, o café esfria ao mesmo passo, parece que o relógio desacelera, o frio fica mais intenso. Como tá gelado aqui!
                O mundo vai girando, as coisas vão acontecendo, ou não, e talvez seja esse o problema, nada acontece, aquela velha história de que tudo muda começa a não fazer muito sentido, e eu perco os sentidos enquanto me perco na viagem pelos sentimentos perdidos, abraços, beijos, lágrimas, sorrisos, tudo some, vai-se embora como a névoa que o sol desfaz.
                Meu coração se acelera enquanto fico aqui desnorteado a lembrar de coisas que não aconteceram, a esperar por pessoas que não fizeram compromisso de vir. Não é nessa estação que o meu trem passa, estou perdido. Torpemente silenciado pelas emoções que coloquei pra fora sem pensar, engraçado, meu bem, eu sempre fui assim: fiz, depois pensei. Agora o descompasso me toma, não sei se a alma se acelerou ou se as artérias estão se inflando mais e mais a cada minuto pela pulsação forte do que me faz viver – ou me tira o júbilo que isso teve, um dia.
                Tristeza, saudade, falta de ocupação, não sei o que se passa. Ou a família me desamparou, bobagem! Nunca cobrei esse amparo deles, grande erro. Talvez por ter procurado abrigo onde nunca existiu sequer um caco de telha pra me proteger da tempestade que é esse mundo, tão docemente cruel. A música vai me tomando, aos poucos surge um novo descompasso, regendo a tormenta de pensamentos que me vem à cabeça neste momento.
                E assim eu vou terminando mais uma noite, acompanhado por uma sutil solidão – grande companheira no inverno – enquanto penso nos amores perdidos, e naqueles que nem cheguei a conquistar, que foram os mais doloridos, pois foram os que mais receberam de mim, todas aquelas coisas boas que estavam enterradas aqui dentro, bem fundo, e que foram jogadas às traças, sem piedade, sem ter, pelo menos, um sorriso agradecido e piedoso.

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