quinta-feira, 28 de junho de 2012

Encanto


                Chega mais perto, pequena, pode vir. Foi você quem me encontrou, justo agora, quando eu não pretendia me prender a ninguém, você chegou timidamente, me disse “oi” e me faz tirar os pés do chão outra vez. Mas pode vir mais pra perto, eu estou gostando disso. Aninhe-se nos meus braços, é inverno, nós precisamos mesmo de algo que nos aqueça, e por que não um aquecendo o outro?
                Guarda o meu lado da tua cama, guardar-te-ei também o da minha e meu peito será teu travesseiro, prometo, pequena, vou tentar fazê-lo o mais confortável possível, pra que você goste de ficar ali algumas noites e alguns dias, aquecendo-nos os corpos e os corações, enquanto recito algumas das minhas poesias desencontradas, aquelas que ainda vou escrever só pra você ler.
                Irônico isso, não? As coisas acontecem quando menos esperamos, talvez aquela teoria de que só encontramos quando paramos de procurar tenha certo sentido, não muito, mas algum. Isso porque quando te conheci, mesmo não querendo voltar a procurar, não vou negar, eu tive vontade de voltar às buscas, e te encontrar por aí, e te deixar tomar conta de mim, e me deixar tomar conta de ti.
                E é nisso que penso agora, quando passei o dia te esperando, aflito, pensando que jamais tornaríamos a conversar outra vez, afinal, dois estranhos que trocaram umas poucas palavras, surgidas do nada, que ao nada podem retornar. Tenho medo, mas tenho vontade. Uma covardia corajosa, não sei explicar o que aconteceu. Só posso te dizer que tenho esperanças de te encontrar, do mesmo jeito que você me encontrou, e me encantou.

domingo, 24 de junho de 2012


                    Se hoje digo sem medo, e sem erro, que te amo, meu bem, sinta-se a melhor do mundo. Usar-te-ei como meu amor, e com o meu amor, entre um gole e outro de Isla Negra, até que finde a noite, até que o encontro com o piso seja inevitável, até que o luar dê espaço à brasa iluminadora dos dias e, assim, ciclicamente, até que se acabe também a eternidade da vida de cada um de nós.
                No nosso mundo somos os únicos. Nas nossas vidas importantes, tu na minha, eu na tua, seguimos assim, ébrios, sóbrios, centrados e estupidamente deslocados, reais e surreais, um paradoxo cheio de vida e de confusões, confusões nas quais somente nós somos capazes de nos encontrar e transformar em poesia todo o tormento que nos adoça.  
                Aos poucos nos encantamos, aos poucos nos descobrimos e, meu bem, tem sido bom viver contigo. Muita coisa mudou, principalmente, na minha vida. Talvez por teus olhos sossegados, talvez por tua voz rompante e ameaçadora. Não sei, mas mudou. Devo-te muitos sorrisos, algumas confissões, muita alegria e, sem sombra de dúvida, o que me tornei.
                Por isso eu vou te amar, todos os dias, até que tudo se acabe, e depois quando tudo recomeçar. Na embriaguez dos nossos lábios nossas mentes nos fazem absurdos quando, entre uma baforada de Marlboro e outra, achamos maravilhosas as nossas vidas e o modo como as levamos, sempre em frente, sempre a caminho dos sonhos mais lindos, aqueles que sonhamos juntos, um dia, sem nem saber quem éramos de verdade.
                Perdoa, meu bem, o desencontro de palavras e o caos que fiz por aqui simplesmente pra dizer que te amo, de uma forma tão fraterna que, eu juro, me faria trocar a minha vida pela tua, sem pestanejar nem pensar duas vezes.

domingo, 17 de junho de 2012


Aperto forte o cigarro
Pra que, de uma vez,
Ele se apague sem fumacear
Assim, sem dó,
Eu faço também com meu coração
Na esperança de que,
Sem um último suspiro,
Ele deixe, de repente,
De bater,
De sentir,
De sofrer.
Assim também eu faço com as lágrimas,
Talvez eu queira também que tudo se acabe
Sem direito a “últimos piscares”
Pra que a dor seja evitada,
Sucumbida de forma rápida,
E que até o sol pudesse desabrazar
Rapidamente e sem dor,
Deixando a chuva dominar um pouco,
Lavando a alma daqueles que,
Assim como eu,
Sofrem de repentes.

terça-feira, 5 de junho de 2012


                Eu chorei, eu não posso negar que sim, eu chorei. Aquele dia foi como se tudo tivesse acabado, e eu sentei no sofá, pensei um pouco em tudo que havia acontecido minutos antes, e logo uma lágrima rolou, e depois disso, meu bem, tudo despencou de verdade. Sonhos, ilusões, sentimentos que deram vida à saudade que trago agora. E restou uma angústia e um cigarro que ando carregando por aí, como se arrastasse correntes de existência pesada, dolorida e insensata.
                Mas eu decidi ir em frente, outra vez, erguer a cabeça e seguir. É claro que eu chorei, meu bem, um dia a gente tem que deixar de ser forte, descer do pedestal de pedra onde nos entrincheiramos, e deixar que a dor saia de dentro do peito, mesmo queimando o rosto, mesmo destruindo a fisionomia, é melhor que saia de uma vez, porque não se deve guardá-la, e porque eu decidi ter comigo apenas coisas boas, coisas que o tempo não leve e que o egoísmo não destrua.
                Eu decidi deixar pessoas na minha história, mas na história que passou, naquilo que vai ficar na memória, pequenas coisas, momentos, minutos, beijos e abraços que ficarão para sempre na mente e no coração. Ora, que graça teria a vida sem o amor, e que amor o seria sem dor? Desde que meu mundo é mundo, pra mim, carrego a sina de amar demais, e como diz a música: “e siempre más feliz quien más amo, y este siempre fue yo...”, sem dúvida, sempre fui eu, e por isso eu deixei a dor partir, me conformei.
                Não posso dizer que não dói mais, mas essa dor o tempo cura, não tem data nem hora marcada, mas eu sei, meu bem, vai passar do mesmo jeito que já passaram tantas e tantas vezes. E não quero dizer que chorar tenha sido a melhor saída pra mim, foi difícil, eu sou duro, sempre tento mostrar uma força sobrenatural com relação a esses acontecimentos da vida, mas chega um dia em que todo o rompante perde o tom, os olhos enfraquecem e a represa de emoções se rompe, deixando escapar tudo que antes estava reprimido.
                Vai ter reconstrução, eu vou me refazer, e a vida vai seguir com ou sem aqueles que eu amo, o mundo não vai parar porque eu perdi uma ou duas pessoas importantes, a vida é mesmo essa estação de trem sem horários fixos e sem destinos certos, uns chegam e outros partem, sem avisos e sem tempo de apresentações e partidas. O mundo vai girar, o tempo vai correr, a vida vai passar e eu não vou ficar parado vendo tudo terminar, eu vou em frente, porque é pra frente que se anda, e é no futuro que meus olhos estão agora.

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Serei teu eixo
Até que a luz se apague
E finde o nosso beijo
Até que a noite se rasgue
Em apenas um lampejo.
Serei teu céu
Ou serei teu mar
Um branco véu
No teu colo a repousar.
Serei teu doce
Ou, talvez, teu mar
Serei uma foice
Para teu amor ceifar.
Serei teu, por inteiro
Sem receios entregar-me-ei
A um sentimento derradeiro.

Vai assim, sem rumo
Olhando para a noite infinita
Como quem perde o prumo
Corre os olhos pela fita.
O filme roda, a vida passa
A música toca
Aviva-se o coreto da praça
Uma moça baila, numa alegria tosca.
Os idiotas, parados
Vêem a película passando
Boquiabertos, pasmados
A “felicidade” terminando.
A roda viva, desaviva
Aos poucos, termina o filme
Tudo se vai embora
De um modo tão sublime
A fita para sem marcar hora.


Tempo e silêncio
Num acorde só
Fazem-me macio
Numa lucidez sem dó.
Quando a vida se
perde
Tudo volta a ser
sonho
O amor sacia a sede
E a cantarolar
ilusões eu me ponho.
No vazio dos dias
As esperanças se
flagram
Nuas e desmentidas
Nos corações que, por
um momento, param.
E a inconstância
segue
Nesse descaminho
frágil
Mas alegre.