Manhã quente. Banho
frio, roupa leve, chegando à cozinha servi-me um pouco de chá gelado, sentei-me
à mesa, e contemplava pela janela meu intangível modo de vida. Os jasmins
orvalhados já perfumavam aquele primeiro momento do meu dia, e seu aroma já se
afinava num acorde perfeito junto com os cheiros do banho e com o perfume do
amaciante de roupas, fazendo uma serenata à solidão, que já invadia meu dia
afim.
O que eu menos
queria era sair dali, quem sabe, quisera naquele momento apenas voltar ao meu leito, e
debruçar-me sobre minhas doces lembranças, e viajar no mundo dos meus
pensamentos, tão belos, tão cheio de amor, de paz, felicidade. Nesta manhã, por
um momento, eu desejei que tudo fosse diferente, tive vontade de correr,
vontade de fugir da minha vida, que se concretizou nesse vazio tão profundo.
Tive vontade de fugir,
levando comigo apenas poucas coisas, e a mulher que amo. Queria sair pela porta
dos fundos, passar o dia tomando sol, à noite pegar o sereno, e depois
juntar-me com ela aos outros casais românticos que se beijam no coreto da praça
do centro da cidade. Queria fazer-lhe todas as juras de amor eterno que tenho
em minha mente, para poder cumprí-las depois, sentir as luzes da cidade nos iluminando, e respirar como se
fosse a última vez que inspirava o ar serenado da noite amena.
Hoje eu tive
vontade de fazer tudo diferente, ao menos por hoje, nada de drama. Hoje eu só
desejei que a minha vida fosse suave, tal qual a água fria que me banhou, tal
qual o aroma dos jasmins que enfeitam a minha janela. Mas tudo não passou de um
sonho de uma manhã de verão, acabou-se junto com o chá que me refrescava antes
de sair pra trabalhar. Ficou a vontade de me sentir gente, humano, que erra,
tropeça e cai e sabe se reerguer; ficou a certeza de que não sei mais me erguer
sozinho.
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